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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Expresso

 -Agora ninguém sabe onde estou, -disse-me ele, enquanto aguardávamos sentados num banco pelo ônibus -nem conseguirá falar comigo ao telefone, ele estará desligado, ao menos para aqueles que quero. Só falarei com quem eu quiser. Encontrarei quem eu quiser. Isso tudo porque cansei, entende? As pessoas me sugam e não sobra muita coisa. Não vá pensar que eu seja esnobe, arrogante ou me achando superior ao ignorar a todos, mas é que não tenho nada a oferecer, por enquanto. Eu não devo satisfações nem explicações de natureza alguma. Agora ninguém sabe onde estou. Ninguém. E é isso que eu chamo de liberdade.

 Eu desconhecia aquele sujeito, nunca o havia visto na vida e tampouco sabia porque começara a falar tudo aquilo comigo. Seus olhos eram tristes e apertava de vez em quando o olho esquerdo, como se sentisse dor de cabeça ou algo parecido. Cheirava a bebida e acendia um cigarro atrás do outro, sua mão tremia.
 Quis perguntar a ele o que o havia deixado naquele estado, mas fiquei em silêncio. Embora ele me parecesse confuso e perturbado, senti que suas palavras eram verdadeiras e decididas. De repente ele puxa um caderninho do bolso do paletó e começa a escrever alguma coisa. Depois pára e fica com uma expressão vazia no rosto, parecendo ter esquecido do que ia escrever ou perdido o ímpeto, e muda para uma cara de dor. Eu não poderia ajudá-lo, e temia que ninguém pudesse fazê-lo.
 Então avistei meu ônibus, despedi-me dele e subi no veículo. Lá dentro, através da janela, vi-o ainda sentado, olhando para o nada.
 Talvez seu ônibus nunca viesse.

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